Aniversário da Revolução Acriana
Episódio que consolidou o território acriano como parte do Brasil, com destaque aos seringueiros liderados pelo gaúcho Plácido de Castro que lutaram bravamente em defesa dos interesses nacionais
Episódio que consolidou o território acriano como parte do Brasil, com destaque aos seringueiros liderados pelo gaúcho Plácido de Castro que lutaram bravamente em defesa dos interesses nacionais
Os primeiros 25 anos do Brasil República foram marcados pelo apogeu do ciclo da borracha, refletindo diretamente na economia da região amazônica. Nessa época, o Brasil monopolizava o comércio da borracha no mundo e o Rio Tapajós era conhecido como o rio da borracha, o que não pôde deixar de chamar atenção de estrangeiros.
Ainda que não fosse reconhecido como território brasileiro, o território acriano era explorado exclusivamente por nordestinos brasileiros que fugiram da Grande Seca (1877-1879) e buscavam melhores condições de vida. Além disso, é documentado o desconhecimento da região pelos bolivianos na época.
O General Meira Mattos em seu livro “Uma Geopolítica Pan-Amazônica” lembra o relatório do então General boliviano José Manuel Pando sobre a região acriana, chamando atenção para os lucrativos seringais explorados por brasileiros em territórios “remotos e até então desconhecidos para os bolivianos.”
A fronteira brasileiro-boliviana era estabelecida pelo Tratado de Ayacucho de 1867, traçando uma linha geodésica de latitude 10° 20´ da foz do Rio Beni às nascentes do Javari, o que estivesse ao norte era do Brasil e ao Sul da Bolívia.
Em janeiro de 1899, instala-se na região a Alfândega boliviana e três meses depois o Embaixador boliviano Don José Paravicini toma posse do território em nome da Bolívia, fundando Porto Alonso, e taxando os seringueiros. Soldados bolivianos marcharam para garantia da posse da região e abriram o tráfego de navios de nações que não podiam até então, como os Estados Unidos.
Os brasileiros reagiram e articularam em conjunto com o governador do Amazonas, Ramalho Júnior, a expulsão das autoridades bolivianas da região, episódio conhecido como a Primeira Insurreição Acriana.
Temendo a perda do território para a Bolívia, em articulação conjunta entre seringueiros e o governo do Amazonas instalou-se em Porto Alonso a República do Acre, representada pelo jornalista espanhol Luís Gálvez Rodrigues que denunciou ao jornal “Província do Pará” intenções da Bolívia em arrendar a região acriana aos ingleses e americanos.
Ocorre que o governo se tornou insustentável, resultando na expulsão de Luís Gálvez por uma flotilha naval brasileira e no restabelecimento da autoridade boliviana em Porto Alonso, mantendo o clima de conflito e disputa na região com o financiamento do governo amazonense à Expedição Floriano Peixoto, arregimentada por jovens intelectuais e patriotas, tornando o movimento conhecido por “revolução dos poetas.” O resultado, todavia, não foi bem sucedido para os brasileiros.
No ano de 1901, a Bolívia arrendou Porto Alonso a um truste internacional chamado Bolivian Syndicate para administrar o território, um consórcio anglo-americano com sede em Nova Iorque, incluindo taxação de impostos e cobrança de tarifas alfandegárias, exploração das seringueiras, navegação livre pelos rios e defesa da região. O maior risco era a desapropriação de seringais de brasileiros.
Os acrianos se mobilizaram novamente, dessa vez liderados pelo agrimensor gaúcho Plácido de Castro, veterano da Revolução Federalista contratado pelo governo amazonense.. Em agosto de 1902, surpreenderam os bolivianos, que estavam distraídos comemorando a independência da Bolívia em Xapuri e, encurralados, se renderam pacificamente.
Um contingente liderado pelo coronel Rosendo Rojas surpreendeu Plácido e sua tropa no seringal Volta de Empresa, resultando na morte de muitos insurgentes acrianos e forçando sua retirada. Em revanche, os acrianos voltaram ao seringal, derrotaram os bolivianos e prenderam o coronel, depois atacaram outras comunidades até partirem para Porto Alonso, último local de resistência.
Plácido reuniu um contingente de mil homens distribuídos em 3 batalhões do Exército Acriano Independente, concentrando as tropas em Caquetá para atacar Porto Alonso. A batalha foi iniciada no dia 15 de janeiro de 1903 e durou 9 dias. A vitória brasileira levou à assinatura da Carta de Rendição pelo delegado boliviano Dom Lino Romero e culminou na reinstalação da sede do governo acriano independente.
A Bolívia planejou uma reação, todavia a diplomacia brasileira representada pelo Barão do Rio Branco interveio e propôs a negociação com o Brasil e em 17 de novembro de 1903 é assinado o Tratado de Petrópolis que concedeu o Acre aos brasileiros e em troca de indenização monetária aos bolivianos, compensações territoriais e da construção de uma estrada de ferro de 400 km que permitisse uma saída à Bolívia ao oceano Atlântico para permitir o escoamento da borracha boliviana.
Plácido de Castro, Arquivo Nacional
Assim, foi inaugurada a ferrovia Madeira-Mamoré em 1912, sendo a 15ª ferrovia construída pelo Brasil, tendo 366 km de extensão e ligando Porto Velho a Guajará-Mirim. Sua construção consolidou o Acre como território brasileiro e contribuiu para a exploração brasileira pela vasta região da Amazônia.
Redação