Brasil deve investir em energia nuclear na Amazônia e dominar essa tecnologia estratégica
Para garantir soberania, desenvolvimento e presença real na Amazônia, o Brasil precisa diversificar sua matriz energética com seriedade — e isso inclui dominar a energia nuclear

Para garantir soberania, desenvolvimento e presença real na Amazônia, o Brasil precisa diversificar sua matriz energética com seriedade — e isso inclui dominar a energia nuclear
A questão energética na Amazônia é, antes de tudo, uma questão de presença nacional. Em vastas áreas do território amazônico, milhares de comunidades isoladas ainda dependem de geradores a diesel caros e poluentes. O custo da energia é elevado, a distribuição é precária, e a ausência de infraestrutura impede qualquer projeto duradouro de desenvolvimento. Resolver esse impasse não é só substituir as fontes de energia para atender as demandas atuais, mas garantir que tenhamos capacidade de atender o consumo energético das próximas décadas, sobretudo aquele resultante da expansão da conectividade digital e de setores econômicos com tecnologia de ponta. Não é possível falar de uso de drones e inteligência artificial na agricultura sem uma matriz energética capaz de suprir esses sistemas.
A energia nuclear, de forma geral, é uma das fontes mais eficientes, limpas e confiáveis já desenvolvidas pela humanidade. Ao contrário dos combustíveis fósseis, ela não emite gases de efeito estufa durante sua operação e, diferentemente das fontes renováveis intermitentes, como a solar e a eólica, garante fornecimento contínuo de energia — 24 horas por dia, independente do clima ou da hora. Sua densidade energética é incomparável: uma pequena quantidade de urânio produz uma quantidade de energia centenas de milhares de vezes superior à de combustíveis convencionais. Além disso, os reatores modernos contam com tecnologias avançadas de segurança, e o armazenamento de resíduos é tecnicamente viável e rigidamente controlado. Países como França, Coreia do Sul (onde um terço da energia vem de fontes nucleares), Estados Unidos e agora até nações em desenvolvimento, como Bangladesh e Emirados Árabes Unidos, apostam na energia nuclear não apenas como pilar da transição energética, mas como símbolo de autonomia tecnológica. Para um país como o Brasil, que já domina o ciclo do combustível nuclear e possui imensas reservas de urânio, ampliar o uso dessa fonte é não só uma escolha racional — é uma afirmação estratégica de soberania e progresso..
O Brasil precisa não apenas garantir energia às suas comunidades, mas também sustentar parques industriais, logística multimodal, mineração estratégica, defesa nacional e segurança alimentar. E, nesse contexto, um país que ambiciona ser potência não pode depender de soluções frágeis, nem abrir mão de dominar o ciclo completo do combustível nuclear — do enriquecimento ao reator. Nem todos pensam assim, entretanto.
Em artigo publicado pelo ClimaInfo e reproduzido pela UOL, os autores Shigueo Watanabe Jr. e Alexandre Gaspari classificam como “espantosa” a ideia do Ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, de incorporar Pequenos Reatores Modulares (conhecidos como SMRs) associados a painéis solares para substituir geradores a diesel em comunidades isoladas da região Norte. Mas o que realmente espanta é a recusa em considerar as exigências de um projeto nacional de desenvolvimento autônomo. Para esses autores e seus companheiros de ideias, basta que o projeto de diversificação faça investimentos na substituição dos geradores a diesel por sistemas eólicos e solares, sem pensar justamente na expansão considerável do consumo energético que um projeto sólido de desenvolvimento para a região amazônica demanda. Um projeto sólido de desenvolvimento significa tecnologia de ponta, novos empregos, infraestrutura, agropecuária tecnológica, bem como a urbanização justa e devida para alguns dos centros urbanos mais castigados e desiguais do Brasil, isto é, casas modernas, confortáveis, com acesso à água, esgoto tratado, internet de alta velocidade e iluminação pública decente.
Não devemos dispensar a energia solar e eólica na Amazônia, mas é preciso de um planejamento estratégico, com diversificação de verdade. De fato, apostar exclusivamente em energia solar e eólica para atender a Amazônia é ignorar imperativos estratégicos que alertam os investimentos massivos em matrizes frágeis e intermitentes não condiz com o aumento projetado do consumo energético nas próximas décadas, aumento que vai acontecer (ainda que menor escala) mesmo que não ocorra interiorização da infraestrutura na Amazônia e a região continue condenada pelos problemas que vive hoje.
Os pequenos reatores são uma resposta técnica e realista a esse desafio. Pequenos, seguros, transportáveis e com manutenção simplificada, eles podem operar por anos sem reabastecimento. Países como o Canadá, os EUA, a China e a Rússia já caminham nessa direção. Entrar nessa área é cruzar uma nova fronteira tecnológica.
A Comissão Europeia — referência para os ambientalistas quando convém — incentiva o uso dos pequenos reatores modulares e enfatiza que possuem sistemas de segurança inerentes, com um núcleo de reator de menor potência e frações maiores de refrigerantes. O SMRs tem riscos menores, funcionamento mais simples e manejo mais fácil em caso de incidentes. Os autores citarem casos como Fukushima e Chernobyl é apenas uma tentativa de dificultar o debate com alarmismo.
Os articulistas do ClimaInfo delimitam claramente que são contra a energia nuclear para enfatizar as suas ideias. Todos que defendem um projeto de desenvolvimento para a Amazônia e para o Brasil devem fazer o mesmo e dizer que são contra projetos assistencialistas precários que idealizam cenários onde ribeirinhos trocam seus geradores a diesel por pequenos paineis solares e seguem suas vidas dependentes de projetos sociais e da economia de subsistência; devemos denunciar a ideia de que de é indesejável o desenvolvimento na Amazônia por razões de preservação ambiental.
A energia nuclear — especialmente sob a forma de SMRs — não é uma antítese da transição energética, mas uma de suas ferramentas mais promissoras. Ela emite praticamente zero carbono, ocupa pouco espaço, tem alta densidade energética e contribui para a estabilidade do sistema. Em 2025 o Brasil não pode se dirigir para a COP30, encontro entre as nações para discutir mudanças climáticas, com a mentalidade de uma feira de ciências onde ONGs apresentam projetos sociais e energéticos mirabolantes, soluções precárias: o país deve falar como uma potência capaz de dominar todas as tecnologias energéticas relevantes e com alto potencial de geração, orgulhoso do fato que já tem uma matriz energética limpa e poderosa (o que também é ignorado e dilapidado pela militância ambientalista contrária às grandes usinas hidrelétricas que atendem a região norte).
O desenvolvimento nacional exige mais do que entusiasmo por fontes “verdes”; exige comando sobre tecnologias críticas. A questão energética se apresenta como um problema de diversificação para a viabilidade futura. O Brasil é um país grande e rico, capaz de entrar nas grandes corridas estratégicas e, portanto, deve dominar todas as tecnologias nucleares. Com coragem e seriedade, sem “espantos” ideológicos.
Editorial