Euclides da Cunha: tal é o rio!
Euclides da Cunha deixou sua descrição estética do Rio Amazonas
O grande escritor brasileiro, fascinado pela geografia, também deixou comentários sobre o Rio Amazonas
A inconstância tumultuária do rio retrata-se ademais nas suas curvas infindáveis, desesperadoramente enleadas, recordando o roteiro indeciso de um caminhante perdido, a esmar horizontes, volvendo-se a todos os rumos ou arrojando-se à ventura em repentinos atalhos. Assim ele se precipitou pela angustura afogante de Óbidos num abandono completo do antigo leito, que ainda hoje se adivinha no enorme plaino maremático, ganglionado de lagoas, de Vila Franca; ou vai, noutros pontos, em “furos” inopinados, afluir nos seus grandes afluentes, tornando-se ilogicamente tributário dos próprios tributários; sempre desordenado, e revolto, e vacilante, destruindo e construindo, reconstruindo e devastando, apagando numa hora o que erigiu em decênios – com a ânsia, com a tortura, com o exaspero de monstruoso artista incontentável a retocar, a refazer e a recomeçar perpetuamente um quadro indefinido...
Tal é o rio; tal a sua história: revolta, desordenada, incompleta.
DA CUNHA, Euclides. Um Paraíso Perdido - Reunião de Ensaios Amazônicos, Coleção Brasil 500 Anos, Brasília: Senado, 2000, p. 123.