Monitor da ONGs: Mongabay, potência editorial do ambientalismo
Com uma linha editorial ativista e foco na influência política, sua atuação levanta questionamentos sobre o verdadeiro papel do jornalismo ambiental na era das ONGs

Com uma linha editorial ativista e foco na influência política, sua atuação levanta questionamentos sobre o verdadeiro papel do jornalismo ambiental na era das ONGs
Nos últimos anos, o Mongabay se consolidou como um dos principais veículos de jornalismo ambiental no mundo. Fundado por Rhett A. Butler em 1999, como um projeto pessoal, o portal cresceu e se tornou uma ONG em 2012, expandindo sua atuação globalmente. Hoje, Mongabay possui cerca de 1.150 funcionários e 1.000 correspondentes espalhados por 80 países, oferecendo uma cobertura ampla sobre temas ambientais. No entanto, um olhar mais atento sobre sua estrutura, financiamento e linha editorial levanta questões sobre sua real independência e interesses ocultos por trás de sua narrativa.
Butler começou no jornalismo da militância ambientalista no final do ensino médio e tinha 21 anos quando criou o Mongabay. O portal evoluiu sobretudo com base em pautas conservacionistas de espécies ameaçadas e o tema "desmatamento em florestas tropicais" foi apenas o 11º tema mais buscado pelos leitores em 2024, ficando atrás de assuntos como montanhas e grandes felinos. No entanto, a insistência da plataforma em reportagens alarmistas sobre a Amazônia sugere um esforço deliberado para manter certas narrativas em evidência, o que situa o Mongabay em uma posição estratégica na linha de produção de narrativas do complexo ambientalista internacional. A própria ONG reconhece que suas reportagens são projetadas para "causar reações nos governos dos países-alvo". Essa linha editorial garante o patrocínio de organizações com interesses próprios na região amazônica.
O Crescimento Exponencial e as Fontes de Financiamento
Ao longo da última década, Mongabay experimentou um crescimento impressionante. Seus relatórios fiscais revelam que o faturamento da ONG saltou de US$ 4,6 milhões em 2018 para mais de US$ 11,3 milhões em 2023. Durante esse período, sua equipe global cresceu 22%, e a organização passou a enfatizar reportagens de alto impacto, projetadas para influenciar políticas públicas nos países-alvo. [relatórios fiscais: 2018, 2019, 2021, 2022, 2023]
Esse crescimento acelerado foi impulsionado por generosas doações de diversas fundações e até fundos governamentais. A Ford Foundation financiou a ONG com pelo menos US$ 900.000 entre 2016 e 2023. A Packard Foundation contribuiu com US$ 1,3 milhão entre 2020 e 2024, enquanto a MacArthur Foundation desembolsou US$ 300.000 em 2021. Outro destaque é a Arcus Foundation, conhecida por financiar projetos de proteção de primatas e da causa LGBT, que destinou mais de US$ 320 mil dólares no período entre 2014 e 2023.
Curiosamente, a Mott Foundation destinou recursos a Mongabay sob a rubrica "BNDES e a Amazônia". Desde 2014, a organização recebeu mais de US$ 360.000 para cobrir o financiamento de desenvolvimento energético na floresta amazônica, especialmente as hidrelétricas. Esse financiamento sugere uma agenda específica contra a exploração energética na região, um tema recorrente em suas reportagens críticas a projetos de infraestrutura e mineração.
Uma ONG Sem Fins Lucrativos que Movimenta Milhões
Apesar de ser uma organização sem fins lucrativos, Mongabay mantém uma estrutura financeira que se assemelha a uma grande corporação. Em 2021, por exemplo, obteve receitas de US$ 6,8 milhões e gastou apenas US$ 3,9 milhões, acumulando um saldo patrimonial de mais de US$ 6,5 milhões. Em 2023, a diferença entre receita e gastos ultrapassou US$ 5 milhões. Essa disparidade levanta questionamentos sobre a real aplicação dos fundos e a natureza de sua operação, que parece menos voltada ao jornalismo independente e mais alinhada a interesses estratégicos de grandes doadores internacionais.
Jornalismo independente em um mundo em chamas?
A influência do Mongabay se estende além de sua própria plataforma. Sua rede de jornalistas se cruza frequentemente com programas financiados por instituições como o Pulitzer Center. Um exemplo emblemático é a jornalista Tiffany Higgins, que mostrou em seu Twitter uma conexão ou pelo menos o interesse em veículos da esquerda brasileira, como o site Conversa Afiada, páginas do PSOL e a APIB (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil). Além disso, sua trajetória inclui bolsas do Pulitzer Rainforest Journalism Fund e outras entidades alinhadas à mesma agenda ambientalista. Higgins vem nos últimos dois anos se dedicando à oposição sistemática a projetos que ampliam a navegação na região Amazônica, em especial a via Tocantins-Araguaia. A jornalista, que diz alternar sua vida entre o Pará e a Califórnia, mobiliza toda pauta possível contra o transporte hidroviário: “vidas ribeirinhas”, quilombolas, indígenas e a biodiversidade, para citar alguns. A leitura do trabalho de Higgins evidencia sua inserção nas pautas hostis à projetos de infraestrutura e a expansão agrícola na região.
O Mongabay é certamente uma das grandes potências editoriais da contemporaneidade. Sua estrutura financeira, conexões políticas e linha editorial o colocam na posição de uma das armas mais poderosas dos ambientalistas na mídia hoje. O portal opera como uma peça de um tabuleiro maior, onde fundações de bilionários financiam narrativas que favorecem determinadas agendas ambientais e políticas, frequentemente em detrimento do desenvolvimento econômico dos países-alvo. É curioso que a ideia de jornalismo independente vai ser perdendo em uma névoa: os veículos que dependem de financiamentos de institutos parecem mais confiantes de afirmar a própria independência do que qualquer veículo que consiga apresentar alguma viabilidade financeira recorrendo à anunciantes.
Diante desse cenário, é essencial que o público e os formuladores de políticas tratem as reportagens do Mongabay com o devido ceticismo, buscando sempre verificar as fontes e compreender os interesses por trás das matérias publicadas. Em um mundo onde a informação é uma ferramenta de poder, respeitar o trabalho bem feito do ponto de vista técnico não significa aceitar os pressupostos políticos da linha editorial que nos oferece esse trabalho; não podemos ser ingênuos. Vivemos em um momento onde as rupturas geopolíticas — grandes potências entram em conflitos tarifários e reivindicam novos territórios, grupos criminosos e terroristas transnacionais disputam com entidades nacionais, tecnocratas globalistas tentam subverter o Estado-nação — ocorrem ao lado de uma crise sobretudo financeira, mas também cultural, do jornalismo. O modelo dos grandes jornais não está sendo substituído pelo jornalismo cidadão e descentralizado da internet, mas sendo capturado por um jornalismo ongueiro que com sua potência financeira consegue pautar os grandes jornais e cooptar as práticas e discursos independentes do jornalismo cidadão.
Editorial