Monitor das ONGs: a Fundação Luterana Diaconia
Da Alemanha para o Paraná, do Paraná para a Amazônia; a FLD está vinculada à militância indigenista e outras causas do progressismo identitário
Da Alemanha para o Paraná, do Paraná para a Amazônia; a FLD está vinculada à militância indigenista e outras causas do progressismo identitário
A religião organizada é uma das grandes obras culturais da humanidade e um dos caminhos que as pessoas têm para se organizar coletivamente, além de aprofundar sua vida espiritual. Sendo assim, é provável que a religião se misture com ações sociais pensadas para ajudar os necessitados ou melhorar a vida em comunidade. Nesse caso, considerando que as ações sociais podem ser inspiradas por ideias políticas, é justo submetermos essas ações ao crivo da razão, sem prejuízo para a liberdade de crença e organização religiosa.
A Fundação Luterana Diaconia (FLD) parece se definir como uma entidade religiosa, mas seu propósito está além da reprodução da fé cristã e da filantropia tradicional. Fundada em 2000 pela Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB), a FLD se posiciona como um instrumento ativo na militância progressista, com um foco ostensivo em pautas identitárias e ambientais. Embora sua missão oficial seja atuar junto a “comunidades vulneráveis”, uma análise mais cuidadosa de sua atuação revela um forte alinhamento ideológico.
A retórica da organização é repleta de termos que se tornaram marcas registradas do ativismo contemporâneo, como “justiça de gênero”, “justiça étnico-racial” e “agroecologia” — não que essas coisas isoladamente sejam 100% problemáticas, mas elas entram em uma estrutura de linguagem que se articula em função do radicalismo. O que se destaca é a maneira quase panfletária com que a FLD articula essas causas. A organização tem um sínodo dedicado exclusivamente à Amazônia, um reduto de ativismo indigenista e ambientalista que se tornou um campo de batalha simbólico para causas globais.
No final, o verdadeiro propósito da FLD parece ser menos sobre servir às comunidades vulneráveis e mais sobre promover uma visão de mundo específica, que faz do ambientalismo, do indigenismo e das causas identitárias seu novo evangelho. É justo ressaltar, entretanto, que a inclinação progressista já existe na IECLB e na Igreja Luterana Evangélica da Baviera.
O braço indigenista da FLD¹, o Conselho de Missão entre Povos Indígenas, o COMIN, que individualmente recebe generosos recursos da União Europeia. O projeto Moviricá, por exemplo, é dedicado ao fortalecimento de movimentos de reivindicação por demarcações. O portal do COMIN descreve o Moviricá como “fruto da parceria entre o movimento indígena e a Fundação Luterana de Diaconia — Conselho de Missão entre Povos Indígenas (FLD-COMIN), financiado pela União Europeia (UE)”. O COMIN exige do Estado brasileiro “repudiar e rejeitar qualquer ato de legalizar mineração nas terras indígenas” e “reconhecer e garantir os mecanismos internacionais de denúncia aos direitos humanos aos povos indígenas”.
Os focos territoriais de atuação da organização estão no Rio Grande do Sul, no Paraná, no sul do Amazonas, no Acre e em Rondônia.
Em Rondônia, a FLD organizou um “Tapiri Ecumênico” durante o X Fórum Social Pan-Amazônico (FOSPA), “Uma ação pensada e construída conjuntamente por movimentos sociais e organizações baseadas na fé e teve apoio da Fundação Ford e de Pão Para o Mundo” (comunicado da FLD, 10 de abril de 2023). O propósito central do evento foi a “denúncia contra os fundamentalismos” e o programa foi descrito pela fundação com as seguintes palavras:
“A programação da sua segunda edição contou com duas mesas nas quais foram discutidos como os fundamentalismos e racismos religiosos têm afetado as vidas dos povos indígenas, de terreiro, das comunidades tradicionais, das mulheres, das juventudes e das populações LGBTQIAPN+, além de uma terceira mesa sobre os impactos das mudanças climáticas na vida dos povos da Amazônia brasileira.”
Em dezembro de 2022, durante o “Dia dos Direitos Humanos” em Porto Alegre, Sandro Luckmann, coordenador da FLD-COMIN, discursou que “a branquitude ainda é um mal que precisa ser vencido”. Luckmann estava presente como representante da organização.
A FLD também desenvolve projetos que são financiados por subvenções de empresas públicas. Com a chegada da nova administração em Itaipu, no bojo da vitória do petismo para o governo federal, a empresa passou a adotar discursos dos militantes indigenistas sobre culpa e reparação histórica. A empresa, regida pelo tratado com o Paraguai, possui liberdade considerável na escolha de seus parceiros e convênios que direcionam subvenções. Neste ano, a FLD se tornou recipiente de subvenções de Itaipu para o “Projeto Opaná — Chão Indígena”.
Pelo menos até então, o valor do projeto é de R$ 24.828.917,40 pelo período de 24 meses. A princípio, enfatizou seu objetivo de promover a “educação antirracista para não-indígenas”, a “agroecologia” e o “saneamento ecológico”. Sendo assim, o projeto está sob a responsabilidade do outro braço da FLD, a CAPA — antigamente Centro de Apoio ao Pequeno Agricultor, agora Centro de Apoio à Promoção da Agroecologia.
Não pretendemos dizer que com essas ideias a FLD comete algum crime, mas é válido verificar com quais círculos políticos e acadêmicos a organização se alinha, em especial quando ela recebe recursos de empresas nacionais como a Itaipu. Daí seguem outras questões: é justo uma empresa nacional promover grupos de veia demasiado militante e com discursos divisionistas sobre o Brasil e nossa identidade nacional? E a preocupação central da organização é o impacto social das suas ações ou a promoção dos discursos populares entre os círculos políticos que se alinham com a FLD? Refletir sobre a atuação de organizações como a FLD no Brasil e sua relação com a Europa evoca a sombra de um complexo eco-imperialista, onde existe a articulação de forças externos com militâncias no interior do Brasil, atuando em frentes diversas, até mesmo dentro do universo religioso. Esperamos, porém, que a consciência individual dos engajados seja mais forte que as tentações que acompanham a política.
¹O coordenador geral do COMIN, Sandro Luckmann, se identifica em seu Linkedin como funcionário e “coordenador geral” na Fundação Luterana Diaconia. Na sessão “Equipe” do portal da FLD, temos uma parte separada para o “Programa COMIN”, onde constam vários cargos como de assessoria jurídica, administrativa e de projetos.
Redação