O monitor das ONGs em 2024
"Cidadãos preocupados"? Brasil entre vigilantes estrangeiros e ativistas profissionais

"Cidadãos preocupados"? Brasil entre vigilantes estrangeiros e ativistas profissionais
No turbulento ano de 2024, iniciamos a série "Monitor das ONGs", que lançou luz sobre questões que desafiaram as narrativas confortáveis sobre Amazônia, meio ambiente, indigenismo e sociedade civil. As duas reportagens publicadas para essa série confrontaram o poder, a influência e, sobretudo, as contradições de organizações não governamentais que operam no Brasil, expondo como suas agendas moldam (e muitas vezes tensionam) políticas públicas e dinâmicas econômicas.
A Ação Amazônia tem seu compromisso com a informação e com a ação social capaz de contrapor e desmistificar o poder de propaganda e intervenção de ONGs que querem monopolizar o discurso sobre Amazônia, meio ambiente e direitos humanos em detrimento da nossa soberania e de outra tendências de opinião presentes na sociedade nacional. Por isso, mantemos nosso interesse editorial na investigação, na exposição e na conscientização sobre o papel de certas ONGs no nosso país.
Amazon Watch: a ONG que vigia a Amazônia – e quem a vigia?
Investigamos a atuação da Amazon Watch, uma ONG internacional sediada nos Estados Unidos, cuja missão declarada é proteger a Amazônia e seus povos (como se existissem "povos amazônicos" para além das sociedades nacionais que compartilham a região da floresta, na América do Sul). Ativa em países como Brasil, Colômbia e Peru, a organização se tornou uma peça-chave em campanhas contra grandes projetos de infraestrutura e iniciativas de desenvolvimento que julga predatórios.
A Amazon Watch atua através de uma articulação cuidadosa de lobby com campanhas de comunicação pública e comunicação estratégica. No campo do indigenismo, por exemplo, mobilizam organizações indígenas alinhadas com seus interesses — prestando formação e financiamento — e colocam seus representantes no lugar certo, na hora certa e com as pessoas que exercem algum poder. Dessa forma, são capazes de incluir delegações indígenas em eventos internacionais como a COP, que não aparecem como "representantes da Amazon Watch" e sim "representantes dos povos indígenas" — representantes que não foram eleitos pelo povo, mas selecionados pelo painel da ONG. Além disso, a ONG também consegue bancar eventos próprios, em seu nome, dentro do fóruns internacionais relevantes.
Figuras conhecidas da APIB — atualmente no governo federal — como Sonia Guajajara e Luiz Eloy Terena foram promovidos pela Amazon Watch pelo mundo.
Afinal, até que ponto uma organização estrangeira pode moldar esses debates sem comprometer os interesses do Brasil? A sede da Amazon Watch fica em Oakland, na Califórnia, nos Estados Unidos e, como mostramos em nossa reportagem, sua atuação custa caro e seus quadros são ativistas profissionais que recebem salários de executivos. De acordo com a declaração da organização para o IRS, no ano fiscal de 2023 suas operações custaram mais de U$ 7 milhões de dólares.
A Amazon Watch é particularmente incisiva na sua oposição à projetos de infraestrutura e ao desenvolvimento da indústria petrolífera. A Ação Amazônia é comprometida com a ideia de que o desenvolvimento no Brasil — sobretudo na Amazônia — depende de um posicionamento de primeira linha na construção de infraestruturas e no mercado energético internacional.
Essa tensão entre proteção ambiental e autonomia nacional foi um dos grandes dilemas do ano. A Amazon Watch, com seus projetos ambiciosos, personificou o paradoxo de uma vigilância que também precisa ser vigiada, sem permitir que ONGs ambientalistas tenham monopólio da produção de legitimidade nessas questões.
Leia agora, Monitor das ONGs: quem vigia os vigilantes?
O evangelho indigenista da Fundação Luterana Diaconia
Em 2024, o "Monitor das ONGs" destacou a atuação da Fundação Luterana Diaconia (FLD), uma entidade fundada em 2000 pela Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB). Embora se apresente como uma organização religiosa voltada para comunidades vulneráveis, a FLD tem direcionado seus esforços para pautas identitárias e ambientais, alinhando-se a movimentos progressistas.
A fundação utiliza termos como "justiça de gênero", "justiça étnico-racial" e "agroecologia", refletindo um engajamento ativo em causas contemporâneas. Seu braço indigenista, o Conselho de Missão entre Povos Indígenas (COMIN), recebe financiamento da União Europeia para projetos como o Moviricá, que visa fortalecer movimentos de reivindicação por demarcações de terras indígenas. O COMIN também se posiciona contra a legalização da mineração em terras indígenas e defende mecanismos internacionais de denúncia de violações de direitos humanos.
A FLD atua em regiões como Rio Grande do Sul, Paraná, sul do Amazonas, Acre e Rondônia. Em Rondônia, organizou o "Tapiri Ecumênico" durante o X Fórum Social Pan-Amazônico, com apoio da Fundação Ford e de Pão Para o Mundo. Além disso, a FLD desenvolve projetos financiados por empresas públicas. Com a nova administração em Itaipu, a fundação recebeu subvenções para o "Projeto Opaná — Chão Indígena", com um orçamento de aproximadamente R$ 24,8 milhões para 24 meses, focando em educação antirracista, agroecologia e saneamento ecológico.
A atuação da FLD levanta questões sobre o alinhamento entre organizações religiosas e movimentos políticos, especialmente quando financiadas por recursos públicos e internacionais. É essencial refletir sobre o impacto dessas ações na sociedade brasileira e na soberania nacional, considerando a influência de entidades estrangeiras em questões internas do país.
Leia agora, Monitor das ONGs: a Fundação Luterana Diaconia
O TAC da Carne e a longa sombra das ONGs ambientais
Criado para coibir práticas ambientais irregulares na cadeia produtiva da carne, o TAC se tornou um instrumento poderoso de controle, moldado por ONGs como Greenpeace e Imaflora.
Porém, o que deveria ser uma ferramenta de transparência e sustentabilidade tornou-se motivo de controvérsia. Produtores rurais relataram exclusão dos processos de negociação e denunciaram o viés de um sistema que frequentemente os trata como culpados antes mesmo de apresentarem sua defesa. Além disso, o financiamento dessas ONGs por entidades de países concorrentes do Brasil no mercado de carne levantou suspeitas sobre interesses ocultos.
O caso expôs uma verdade desconfortável: em um mundo cada vez mais interligado, quem define os limites entre preservação legítima e manipulação geopolítica?
Leia agora: As ONGs, o TAC da Carne e o rebanho brasileiro
2024, o início do Monitor das ONGs
O "Monitor das ONGs" de 2024 nos lembrou que nenhum ator, por mais bem-intencionado que pareça, está imune a críticas ou deve operar sem escrutínio. As reportagens não apenas provocaram reflexões, mas também reafirmaram a necessidade de um debate mais maduro sobre a atuação das ONGs no Brasil.
Se há uma lição a ser tirada deste ano, é que o equilíbrio entre justiça social, preservação ambiental e soberania nacional não pode ser conquistado por meio de simplificações. A história do Brasil – e da Amazônia – é feita por uma teia de interesses, atores e conflitos. As ONGs não são entidades messiânicas além do escrutínio e das críticas.
Redação
